Como escolher um sócio?

Nas várias vendas de empresas e participações que fiz enquanto parte vendedora ou inicio de novas sociedades, o foco esteve sempre no negócio (claro), nas auditorias, nos business plan e nas due diligence numa primeira fase, e na segunda fase nos contratos… cerca de 70% do tempo decorrido esteve sempre na protecção das partes com parassociais e clausulas de protecção dos interesses. No entanto, por mais cláusulas que coloquem, se a relação não correr bem, não há clausula ou negócio que resista.

Como tive algumas sociedade que não correram bem, sobretudo devido à incompatibilidade de sócios, tenho pensado no tema, e analisado a forma como geralmente decorrem os processos, nomeadamente o conhecimento entre as partes resume-se simplesmente:  4 ou pouco mais reuniões, uns almoços e o resto é entre os advogados, auditores e contabilistas. No final assina-se contratos, vamos almoçar para comemorar e brinda-se ao futuro com um excelente vinho. (Isto quando feito por gente experiente, pois quando é entre amigos há só a parte dos almoços e dos brindes)

Para mim, passou a ser obvio que este tipo de processos teria grandes chances para correr mal e que se esquece do mais importante:
O conhecimento mutuo e a compatibilidade entre sócios  – Extremamente importante

Acima de tudo, ter uma sociedade é ter uma relação muito próxima com outras pessoas, tal como a de casados, a de grandes amigos, entre outras.
A diferença é que os casamentos têm um período de namoro e mesmo assim a probabilidade de correr mal é alta. No entanto nos divórcios basta haver um que pretenda terminar o casamento…
Nas sociedades o “divorcio” é muito mais complicado, pois se um quiser e o outro não, pode ser bastante complicado de chegar a um acordo e fácilmente se coloca a empresa em risco. Sendo que nas empresas é muito propicio haver problemas, desde a visões estratégicas diferentes, a problemas vários de equipa, clientes,  problemas de tesouraria, quem trabalha e quem não trabalha, entre outros… que tornam o dia-a-dia tenso e como tal é fundamental que haja relações sólidas que consigam superar as adversidades.

Damos uma enorme importância (e bem) em fazer um recrutamento eficaz de colaboradores, sendo que o colaborador “podemos” despedir a qualquer momento, mas fazemos rigorosos processos de selecção por forma minimizar esse risco para bem do negócio.

Então e porque não fazer o mesmo aquando o inicio de uma relação societária?

A meu ver deveria haver processos de selecção e de compatibilidade entre sócios, pois poderia ser uma excelente forma de acautelar futuros grandes problemas ou até servirem de conselhos de como ultrapassar os problemas do dia-a-dia de uma sociedade, ou seja, uma relação entre pessoas.

Não deveria ser introduzido este aspecto nos processos de aquisição ou de formação de sociedades?

Aqui fica uma dica de oportunidade de negócio para os profissionais de RH.

Ricardo Teixeira
Empresário | Investidor | Orador

Web Summit é ou não bom para o nosso país?

Tenho ouvido diversas opiniões sobre o Web Summit. Aliás, como é nosso apanágio, primeiro há uma reação de deslumbramento, sobre tudo que há de novo e depois com o passar do tempo começam a surgir opiniões e artigos. E claro, com o Web Summit não seria diferente. De notar que até o Jornal Expresso fez um artigo onde o CEO do Web Summit Paddy Cosgrave passou por patético, quando antes foi exatamente o contrário…

Em 2012 quando abri a minha primeira empresa fora de Portugal, mais precisamente em Inglaterra, Portugal era pouco conhecido e os que achavam que conheciam, pensavam erradamente, que era um país de turismo e de peixe. Inovação e tecnologia não existiam por estas bandas, logo se queríamos vender além fronteiras, teríamos de dizer que éramos Ingleses.

Hoje, e em tempo record, Portugal não só é reconhecido como um país de inovação tecnológica, como também rapidamente passou a estar no mapa da estratégia de grandes empresas ao deslocarem para cá seus hubs/polos de desenvolvimento, suporte técnico especializado em tecnologias, entre muitas outras variantes que vieram dar emprego a Portugueses e trouxeram milhares de estrangeiros para vir trabalhar em Portugal.

Logo no primeiro Web Summit em 2016 a Mercedes deslocou para Lisboa a sua unidade de desenvolvimento aplicacional para Portugal, ou seja, tudo o que vimos nos ecrãs dos Mercedes é desenvolvido em Lisboa.
Em 2017 já estava a reforçar a equipa com 100 novos engenheiros.

Quem não se lembra deste famoso video?

Corria o ano de 2017, tinha alguns escritórios para arrendar no Parque das Nações, durante os 3 dias do Web Summit foram dezenas de solicitações por parte de empresas que queriam vir para Portugal, entre elas tinha a VW e BMW, que também estes seguiram as pisadas da Mercedes e também eles já estão instalados em Portugal a desenvolver as suas aplicações. Contudo os espaços que tinha, foram para uma empresa Belga que é um dos maiores implementadores de Salesforce e a partir de Lisboa, desenvolvem para todo o mundo.

Como estes exemplos temos:

  • A Cisco abriu cá um centro de customer experience que dá emprego a 800 pessoas altamente qualificadas
  • A Cloudflare considerou 45 cidades de 29 países dos quais escolheu Lisboa para fazer o seu centro europeu no qual irá ter 500 pessoas altamente qualificadas
  • A Oracle no Porto
  • A Google, a Amazon, a Uber, a Pipedrive, a Euronext, a Fujistu, a Huawei, a GCI, e muitas outras

Para terem uma ideia mais concreta em números temos em Portugal (fonte INE):

  • Nº de filiais estrangeiras em Portugal em 2017 eram 6.360 em 2018 foram 6.825
  • Empregam 487.000 pessoas
  • Volume de negócio de 22 mil milhões de euros e tem crescido desde o Web Summit cerca de 5% ao ano
  • Com salários em média 40% superiores aos que são pagos em Portugal com um valor médio de 1.354€
  • Representam 24,3% do volume de negócios gerado em Portugal

A titulo de curiosidade, só no recinto em bancas de comida, foram consumidos 300.000€ diáriamente, isto apenas no recinto do evento onde há uma oferta muito reduzida de quiosques de comida, façamos o seguinte exercício: imaginem tudo envolve o evento, restaurantes, bares, hotéis, transportes,…

Outro excelente exemplo são as StartUps, que se desenvolveram em Portugal, uma cultura de novos empreendedores que se criaram. Hoje muitos jovens terminam os seus cursos e pensam em criar uma empresa para desenvolver novas ideias, criou-se também uma nova cultura de investidores e mentores que apoiam estes jovens a terem mais probabilidades de sucesso e assim criou-se todo um novo ecossistema de empreendedorismo.

Mais uma vez, para terem uma ideia, após o Web Summit as empresas Portuguesas tiveram 1.000 milhões de investimentos em 392 rondas, onde se destacam as seguintes empresas:

  • Farfetch (que teve que se apresentar inicialmente como uma empresa Inglesa pelos mesmos motivos acima referidos)
  • Uniplaces
  • Outsystems
  • Talkdesk
  • Feedzai
  • Unbabel
  • 360imprimir
  • E muitas outras

Em contra partida Portugal dá 11 milhões de euros em apoios à organização do Web Summit, os quais a meu ver vale todos os euros e cêntimos, pois para além da notoriedade que traz ao país em termos de comunicação social, estes 11 milhões pagam-se apenas com os 3 dias do evento no que é gasto e impostos que são gerados, mas fundamentalmente traz:

  • Emprego qualificado
  • Novas culturas de empreendorismo e investimento “semente”
  • Uma estratégia ao país alternativa à estratégia do turismo
  • Gera impostos e exportações

Do meu ponto de vista , venham mais “ Web Summit”, o balanço final é muitíssimo positivo para todos, em variadíssimas áreas.
A minha sugestão passa , por haver menos Velhos do Restelo , vulgos “ haters”, até porque , isto sermos resistente à mudança , é coisa do passado e não nos acrescenta.

Ricardo Teixeira
Empresário | Investidor | Orador

PARFOIS – Curiosidades de uma gigante muito discreta

Quem me conhece, sabe que tenho um “Guilty pleasure” de analisar empresas, embora o tenha sempre feito de um forma silenciosa, até aqui.
Aproveitando este quase meu “Fetish” e o meu blog, decidi começar a partilhar o que pesquiso sobre as empresas que admiro. E a primeira que escolho é a Parfois!

Todos temos ideia que a Parfois é grande e está em todo o lado, eventualmente que é uma empresa Francesa, contudo será que temos a ideia que é tão grande quanto é na realidade?

Trata-se de uma empresa nacional de venda de bijuteria, acessórios de moda, roupa e calçado, sediada no Porto.
Mas tudo começou em 1994 pela vontade da sua fundadora e única accionista, MARIA MANUELA DE MEDEIROS PEREIRA SOARES  (Manuela Medeiros), na altura com 42 Anos de idade (Ver artigo: Nunca é tarde de mais para começar), uma mulher do norte, com garra, com visão e audácia quando se trata de arriscar, contudo estou certo que  não imaginava o quão grande se iria tornar a Parfois e passados 25 anos que a iria tornar uma das pessoas mais ricas de Portugal, tendo recentemente entrado para o Top20 em 2019.

Atualmente tem ao seu lado as suas filhas Mariana e Barbara na Holding Barhold S.A. detida pela Luxamburguesa Fashold SA, e recentemente chegou a ter o antigo ministro da economia Pires de Lima responsável pela internacionalização da marca, mas a sua ultima contratação de peso foi a contratação Ex-CEO da multinacional Grupo TOUS.

Por forma a compreendermos o tamanho e crescimento da Parfois, partilho alguns números de 2007 e há 12 anos era assim:

  • 34 lojas próprias em Portugal
  • 11 no estrangeiro
  • 76 lojas nacionais em regime de franchising
  • 28 internacionais sob o mesmo regime
  • 25 milhões de euros de facturação
  • 100 trabalhadores na sede, em Portugal
  • 140 nas lojas nacionais
  • 40 funcionários no estrangeiro
  • A Parfois encontrava-se em Espanha, França, Itália, EUA, Chipre, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Arábia Saudita

Agora passados 12 Anos o crescimento é tão grande que compreenderão a minha admiração para com a Parfois:

  • 939 Lojas no fim de 2018 e chegará às 1000 em 2019
  • 805 são fora de Portugal
  • 100 lojas novas por ano, ou seja, “apenas” 2 por semana!!
  • 318 em Espanha
  • 70 países em que está presente
  • 290 Milhões de euros de faturação, sendo 82% fora de Portugal e com um crescimento de 25% nos últimos 6 anos
  • 3121 Funcionários diretos sem contar com os dos franshisados, sendo 80% mulheres
  • 30 Milhões de euros de investimento em 2019 para crescer mais ainda
  • 40 designers é a equipa da Parfois e conta com 3.500 peças desenhadas
  • 834K de seguidores no Instagram
  • 2012 Abriu loja online

Para mim o único “erro” estratégico é a Parfois querer entrar no mercado da roupa e calçado, num segmento altamente competitivo e ocupado por marcas como a ZARA, H&M e Primark o que se torna uma luta sem hipóteses, bem como necessita de lojas maiores e uma maior velocidade de rotação de artigos e de constante necessidade de novidades, enquanto no mercado tradicional da Parfois, ou seja, bijuteria e acessórios de moda, essa necessidade não é tão grande nem tem concorrentes maiores e mais fortes que a Parfois nos mercados em que opera.

Manuela Medeiros, agora com 65 e ainda à frente do grupo, é uma mulher discreta e assume a liderança no “banco de trás”, pois são poucos os eventos ou ocasiões que representou a marca.
Uma mulher com M (grande), com o esforço acrescido de ter sido mãe de duas crianças na altura de lançamento da marca, tornou-se um exemplo impar em Portugal e uma das maiores empresas exportadoras no nosso país.
Em Portugal e Espanha é quase impossível encontrar uma mulher dos 15 aos 55 anos que não tenha pelo menos uma peça da Parfois.

O meu profundo respeito e admiração para com esta marca e sua fundadora!